Da marcenaria a tecnologia e dados
Por Juan Brandão

Da marcenaria a tecnologia e dados
Nascido em uma família humilde de marceneiros em São Roque, São Paulo, cresci observando a engenhosidade do meu pai, um marceneiro autodidata com apenas a sétima série. Ele transformava materiais simples em ferramentas e máquinas úteis, como um poderoso sistema de exaustão feito de motores e tubos de zinco, ou levantava tábuas pesadas com sistemas de roldanas. Esse ambiente despertou em mim uma profunda admiração pela capacidade de criar soluções práticas com tecnologia.
Desde cedo, nunca tive muitas facilidades na vida, como só trabalhar ou só estudar; tive que fazer ambas, começando minha jornada profissional como atendente de academia, economizando para abrir uma loja online de suplementos em 2009. Naquela época, plataformas como Mercado Livre e Amazon ainda estavam longe de serem dominantes, e parecia uma oportunidade promissora. Aprendi Web Design, UX e programação de sites, mas enfrentei minha primeira grande decepção quando meu fornecedor desapareceu, causando um prejuízo significativo.
Persisti e continuei trabalhando até atingir a maioridade. Decidi então reabrir a marcenaria da família com um nome mais sofisticado e focando em design de móveis. Embora entusiasmado e determinado, a recessão de 2011 dificultou a obtenção de grandes contratos, somado à falta de experiência. Felizmente, durante esse período, iniciei minha faculdade de T.I, onde encontrei minha verdadeira paixão. A união entre criatividade e tecnologia.
Durante meu estágio na agência Sunset de publicidade, tive meu primeiro contato com o mundo da T.I em agências de publicidade. Trabalhar com agência foi encantador, especialmente ao conhecer a equipe de Business Intelligence (BI). Naquela época, o BI ainda não era consolidado nas agências, mas vi seu potencial e comecei a estudar ferramentas como Excel, Google Tag Manager, Google Analytics e previsões.
A necessidade de um salário melhor me levou a buscar um trabalho em tempo integral em uma multinacional de cursos de inglês. Lá, continuei a trabalhar em TI e fiz amizade com a equipe de BI, dedicando horas extras para aprender com eles. Essa dedicação culminou na minha entrada no competitivo mercado financeiro, onde consegui uma posição no Grupo Stone. A startup me ofereceu a chance de trabalhar desde a criação de bancos de dados até a visualização de dados, e consegui reduzir a taxa de churn de 27% para 9% em apenas três meses, aplicando a organização e clareza que meu pai sempre ensinou: “Antes de fazer, reúna as ferramentas, limpe o que for preciso e visualize o que vai ser feito”.
Após concluir minha faculdade e alguns cursos adicionais, percebi a importância do autoconhecimento e decidi cursar psicanálise na Sociedade Brasileira de Psicanálise. Esse estudo me ajudou a compreender melhor a mim mesmo e as interações humanas, uma habilidade valiosa tanto na vida pessoal quanto profissional. Como disse Carl Jung, “Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta”.
Com uma experiência completa em dados e BI, voltei ao mercado publicitário, aceitando um convite para trabalhar na McCann Health em 2018. Lá, ajudei a estruturar a área de BI, contribuindo para projetos significativos como o aumento da recorrência de pacientes cardiopatas negligentes, resultando em um prêmio EFFIE 2019 na categoria Programática.
Minha inquietude e curiosidade me levaram a atuar como consultor de BI para agências de médio porte, levando a deixar o cargo na McCann Health e me dedicar a ser consultor. Esse sucesso rápido me fez retornar ao Grupo IPG, só que agora na WMcCann a convite de Felipe Borges, para um projeto desafiador: Criar um banco de dados unificado para todos os clientes. Trabalhando com arquitetura em nuvem e gerenciando a conta da Amazon, adquire um aprendizado valioso.
Passando pelo desenho de todos os fluxos de informações de cada cliente, desde taxonomia até CTA, de veículos a faturamentos, desenhamos um projeto em arquitetura cloud. Em paralelo, liderando a conta da Amazon e uma equipe. Essa experiência foi um aprendizado fantástico. A Amazon, como conta publicitária, foi uma verdadeira escola, abrangendo desde campanhas de varejo massivas até iniciativas disruptivas, como OOH interativo.
Além disso, a convite de Anny Atti, diretora de dados e BI da WMcCann, iniciei uma jornada paralela como professor de banco de dados na escola SandBox. Esse papel me proporcionou um enorme aprendizado sobre como compartilhar informações com profissionais de ponta.
Infelizmente, tive que transferir a finalização do projeto a outra equipe. A divisão da qual eu fazia parte na WMcCann foi segmentada quando a agência global Mediabrands chegou ao Brasil. Tive que acompanhar a equipe, mas deixamos o projeto em boas mãos. Hoje, cinco anos depois, ele continua em expansão.
Na Mediabrands, o desafio era outro, não mais técnico, mas executivo. Com a troca de agências, ficamos um bom tempo sem gerência, e eu assumi diretamente o contato entre Brasil e Chicago, focando na performance. Trabalhar com o mercado americano foi uma experiência enriquecedora. A maturidade na utilização de dados e a forma prática de resolver problemas são aprendizados que levo para a vida.
Após alguns meses, ganhamos um novo head de data, Daniel Konskier, um excelente profissional com uma visão empresarial que complementava a perspectiva de agência de performance. Aprendi muito com ele, e, mesmo com sua saída, ele me deixou uma grande responsabilidade: Assumir seu lugar.
Sua frase ao me comunicar isso foi marcante: “Algumas posições não são você que decide que está pronto, quem decide são outras pessoas.” Isso foi impactante, pois é real. Em determinado momento da carreira, quem decide seu futuro são outras pessoas.
Carrego essa mensagem comigo. Tanto no caminho executivo quanto no técnico, é essencial que outras pessoas reconheçam seu trabalho e postura para decidir seu futuro. Tomei essa responsabilidade com medo, insegurança e receio, mas sem demonstrar nada. Afinal, coragem não é a ausência de medo, mas sim continuar apesar dele.
Esse período foi maravilhoso, repleto de desafios e expansão da equipe, abrangendo vários núcleos como BI e engenharia de dados, atuando no modelo de mesa de performance. Ganhei a possibilidade de criar um núcleo de social listening, que é uma competência essencial para a agência e para a performance, muitas vezes negligenciada, mas que não deveria ser. Um exemplo disso foi nossa atuação como comms planning, utilizando dados de social listening de forma muito presente para comprovar a adesão de ideias e levantar a temperatura de assuntos, sendo uma ferramenta poderosíssima.
Em 2021, fui convidado pela Accenture para fazer parte de um time experimental, enfrentando novos desafios, a fim de criar uma equipe de ponta para atender toda uma operação de mídia em larga escala com a menor equipe possível, éramos cinco para mais de duzentos milhões.
Ao final do mesmo ano, recebi outra ligação de Felipe Borges agora Head de Dados, que agora além de profissional incrível posso dizer que é um amigo pessoal, com outro desafio para a WMcCann: Automatizar a performance do Banco do Brasil, assumindo posteriormente, responsabilidades na gestão de campanhas massivas e treinamento para seniorizar as equipes.
Ao longo dessa jornada, aprendi que a curiosidade, o autoconhecimento e a resiliência, aliados ao uso da tecnologia, podem levar qualquer pessoa a alcançar seus objetivos. Steve Jobs disse uma vez: “A inovação é o que distingue um líder de um seguidor”. Tento aplicar isso em cada aspecto da minha vida e carreira.
Acredito que registrar minhas emoções e reflexões em um diário pessoal é essencial, assim como a busca contínua pelo conhecimento e a gratidão às pessoas que me apoiaram ao longo do caminho.
Para mim, o trabalho é essencial, e estudar não é apenas uma obrigação, mas uma fonte de diversão. Em um momento histórico de revolução das inteligências artificiais, vejo a evolução tecnológica como uma oportunidade para moldar o futuro de maneira inovadora e eficaz. A jornada é contínua, e o aprendizado nunca para.
Como Einstein afirmou: “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve o mundo inteiro”.